Há alguns dias atrás, assisti a um animê de longa metragem bem diferente dos outros que já tinha visto. Falo sobre “Sennen Jooyu” (“Atriz Milenar”, traduzindo para o português), dirigido por Satoshi Kon, conhecido também pela direção de “Perfect Blue”, em 1998 e Tokyo Godfathers, em 2003. Kon foi sempre bem recebido pela crítica e optava por trabalhar independentemente, sem precisar de ajuda das grandes produtoras.
A animação, feita em 2001, fala sobre Genya Tachibana um ex-funcionário de um estúdio de cinema que decide fazer um documentário sobre Chiyoko Fujiwara, uma atriz com mais de 70 anos de idade, que aposentou-se no final da década de 1960 e passou a viver longe das câmeras. Após várias tentativas, Tachibana consegue marcar uma entrevista com a atriz e aproveita para devolver-lhe uma chave encontrada entre os objetos de um antigo estúdio desativado. A partir disso, Chiyoko começa a contar a história de sua vida, desde que nasceu, durante o Grande Terremoto de Kanto, em 1923.
Durante sua adolescência, enquanto ocorria a 2ª Guerra Sino-Japonesa, Chiyoko se apaixona por um pintor nascido na Manchúria (território no leste da China, ocupado pelo Japão entre 1932 e 1945), que estava ferido, fugindo dos policiais e leva-o para o depósito da loja de sua família, onde ele lhe entrega uma chave e promete que os dois se reencontrariam quando a paz voltasse. Pouco tempo depois, a garota torna-se atriz para participar de filmagens na Manchúria e reencontrar o pintor, assim, Fujiwara passa a vida procurando seu amado.
Enquanto narra sua biografia, os filmes em que atuou se misturam aos fatos de sua vida, mesmo assim, sem confundir a quem está assistindo ou fazer com que o espectador perca o interesse pelo anime, o que poderia acontecer se não fosse bem dirigido. Em todos filmes da atriz, que funcionam como símbolos de sua vida, além de resumir mil anos da história japonesa e a história do cinema no Japão, Chiyoko aparece sempre procurando pelo pintor, enquanto Genya a protege e ajuda em sua busca.
Pelo filme “Sennen Jooyu”, seu diretor recebeu o Grande Prêmio da Japan Agency for Cultural Affairs e recebeu muitos elogios dos críticos. Infelizmente, Satoshi Kon faleceu no dia 24 de agosto de 2010, com um câncer no pâncreas.
Conta-se que o filme foi inspirado na história de Setsuko Hara, uma atriz japonesa nascida em 1920, que passou a ser conhecida na produção nipo-alemã “Atarashiki Tsuchi” (A Nova Terra) e tornou-se um símbolo da era de ouro do cinema japonês na década de 1950, participando de filmes famosos como “Pai e Filha”, de 1949 e “Era uma Vez em Tokyo”, de 1953, fazendo dupla várias vezes com o diretor Yasujiro Ozu. Hara se aposentou em 1963, mesmo ano da morte de Ozu, isolando-se em Kamakura, na província de Kanagawa e fugindo sempre da mídia desde então.
O filme “Sennen Jooyu” não foi lançado nos cinemas do Brasil, e também não está disponível para compra, mas, pode ser fácilmente encontrado com legendas para ser baixado na internet.
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